02/11/2014

"Fala, mas não me toca"


Comprei um jornal para trocar uma nota de R$ 50,00 antes de pegar o ônibus para vir para casa. Eu ia comprar o jornal "de melhor qualidade", mas só tinha jornal "para a grande massa", então peguei este mesmo para conseguir fazer o que queria. E fui ler um pouco 
enquanto o transporte não chegava.
Se eu não fosse preparada para determinadas questões "morreria de tristeza", pois nas propagandas as pessoas negras simplesmente não aparecem. Só tive a oportunidade de ver uma foto onde dizia que a pessoa 'se vestia mal' no meio de outras pessoas que também se 'vestiram mal' de acordo com as regras atuais de "moda". Ah! Também visualizei uma foto bem pequenina falando sobre implantes capilares (que por sinal, eu também uso).

E pensei... "Ainda bem que não sou leitora assídua... Eu me sentiria muito pior, financiando semanalmente publicações que não me representam".
Guardei a publicação na bolsa, porquê eu não jogo lixo no chão. Mesmo que seja um lixo que me agride. Sou educada. Espero estar diante de um recipiente apropriado para tal.

Até que... Enfim...
O ônibus chegou e eu e mais outras pessoas entraram.

Demorou um pouco... E quando estávamos próximos de descer... Além de mim, sairia um grande grupo. Se aproxima de mim um rapaz que eu só tenho o hábito de falar 'bom dia' ou 'boa tarde' (somente pelo simples fato de a minha mãe, pelo acaso ou pela falta de sorte mesmo, conhecer a mãe dele) , que depois de eu ter cumprimentado, ele veio querer me tocar. Me afastei. Mas ainda assim, ele, veio, passou a mão no meu ombro como se estivesse fazendo carinho (não sei se estou me fazendo entender). Me afastei novamente e olhei sério para ele.
Falei: "Não toca em mim". / Ele se fez de desententendido. / Eu continuei: "Não sou sua amiga." / Repeti a última frase. / Ele: "Ah. Tá."

Se eu não 'corto' agora, daqui a um tempo ele pode se achar no direito de pegar onde quiser. As pessoas testam os limites das outras. Sempre. 
Ele não é a primeira pessoa que tenta forçar uma intimidade que não existe. E infelizmente, não será o último.

Se você é mulher... Espero que não tenha vivenciado, mas muita mulher assim como eu:

Já deve ter passado pela situação de ter sido usada por alguém, para demonstrar para outrem que possui acesso ao seu corpo. 
Eu sinceramente, digo, que se lesão corporal não fosse crime, eu já teria dado uns bons socos na cara de mais de 30 pessoas (homens cis). Nem que fosse, para bater e correr depois (caso o oponente fosse maior do que eu), mas já teria valido a pena por poder expressar a raiva que possuo desses seres nojentos que nos vêem como objeto.


***** Eu já passei por isso em local de trabalho... Diversas vezes. E tive que pedir para fulano não me tocar, para beltrano não colocar a mão na minha cintura, para fulaninho não vir pegando nos meus ombros... Pois graças a Deus eu consigo escutar, e se falar eu consigo compreender. Basta falar. Me vêem como grosseira quando imponho limites. Mas aprendi que pior é se calar e ser tratada como "uma coisa". 
Então, quando percebo que está ficando desconfortável para mim, eu sinalizo.

Pior de tudo é que tem mulher que acha que isso é normal. Não!!!! Não é!!! 

Intimidade é algo construído. 

Posso ser negra, e ser mulher sim. Estou no Brasil. Mas meu corpo NÃO É de domínio público.
Meu espaço, minhas regras.

O Estado pode dizer o que quiser, MAS EU VOU ME DEFENDER, SEMPRE QUE EU PUDER!

Bom dia.

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