07/05/2007

Intrinsecamente mau ou desordem objetava

Reflexão breve sobre a visita do papa Bento XVI ao Brasil e sua implicância com os homossexuais



Por Marcelo Cerqueira, presidente do Grupo Gay da Bahia (GGB).

Eu nasci católico, fui crismado, batizado, tive aulas de catecismo, fiz primeira comunhão vestindo um terninho branco na Fazenda Saco do Capim, em Irará, cerca de três horas partindo de Salvador. Garoto mudei para São Paulo e foi lá que tive uma forte identificação com a religião, eu, dois garotos éramos coroinhas de uma igreja dedicada a Santa Isabel Rainha na Rua Dedo de Deus, Vila Formosa, zona Leste.

Duas declarações do papa Bento XVI que me instigaram desenvolver essa reflexão dramática. Elas não perturbam somente a mim, mas a muitos católicos que tem familiares que são homossexuais e a muitos homossexuais que são católicos e que acreditam que as suas escolhas pessoais no campo da sexualidade podem conviver harmoniosamente com a fé em Jesus Cristo.

O papa Bento XVI divulga aos cristãos e a toda humanidade que a homossexualidade é algo intrinsecamente mau e também é uma desordem objetiva. A primeira mensagem tem a prerrogativa de afirmar que “homossexualismo” é coisa do diabo que é o pai da maldade, pois não pode produzir bons frutos, uma árvore ma dá maus frutos deve-se erradicar, os homossexuais vão todos para o inferno porque são intrinsecamente maus, intrínseco dentro de si,lá dentro do seu interior no seu intimo secreto. A maldade está inseparavelmente ligada às pessoas homossexuais para o pensamento do papa, mas não para muitos católicos comuns que convivem no cotidiano com homossexuais, seus filhos, parentes e entes queridos.

A noção de bem e mal é relativa às diversas culturas no mundo inteiro. Um dos problemas do papa é que ele não é relativo e procura bases absolutas e essas bases são imposições de suas próprias verdades, suas vontades totalitárias. Ele busca padrões universais, totalitários e transitórios que possam servir em todas elas. Tenta impor ao mundo inteiro a intolerância tornando-o tão fundamentalista que os mulçumanos. Não pode haver discussão porque a verdade está na igreja.

A segunda mensagem do papa é de que a homossexualidade representa a desordem em sua objetividade. Propositalmente sua santidade emite a idéia de que os homossexuais ameaçam a ordem dominante, vão de encontro à natureza, bagunça a ordem natural das coisas e da relação macho e fêmea. Para os dois argumentos a lógica do discurso é a reprodução e a família, mas no contexto de família tribal que vivia o medo da extinção da espécie diferente de hoje com a expansão populacional. A reprodução e as uniões tinham a finalidade única de manter o clã e não se davam com base em alianças individuais.

A concepção de família para a igreja é tribal não é burguesa nem moderna ligada ao amor das escolhas individuais onde a reprodução é um elemento secundário. Essa desordem objetiva maldosamente divulgada passa a ter um outro significado que surge como uma nova ordem porque homossexuais não ameaçam a espécie e nem a estrutura social. Trata-se claro de um re-ordenamento que os celibatários da igreja alheios à vida real dos cristãos no mundo não conseguem perceber.