24/03/2014

Deputado diz que ocorrências homofóbicas cresceram no Rio após fim da lei específica no Estado

Fonte: ÚltimoSegundo (Ig)

A derrubada da lei estadual 3.406-2000, que define penalidades a estabelecimentos que discriminem pessoas por causa da orientação sexual, pode estar relacionada ao aumento da violência sofrida por lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e transgêneros. O tema foi discutido em audiência pública na última quinta-feira (20), promovida pela Comissão de Combate às Discriminações e aos Preconceitos de Raça, Cor, Etnia, Religião e Procedência Nacional da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
 
De acordo com o presidente da comissão, deputado Carlos Minc, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro revogou a lei em outubro de 2012 por vício de iniciativa, depois de ela “funcionar muito bem” por 12 anos.
 
“A lei [definia] discriminação [e estabelecia] que agentes públicos que se omitissem [sobre o assunto] seriam punidos. Houve recurso por vício de iniciativa, porque deputado não pode legislar sobre funcionário público. O Tribunal de Justiça acatou a representação, mas não anulou só o artigo que falava de funcionário público. Aproveitaram um pouco de desinformação, e também conservadorismo da nossa justiça, e passaram o cerol [mistura de cola com vidro moído que é aplicado em linhas de papagaios ou pipas] em toda a lei”.
 
O superintendente de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos da Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Claudio Nascimento, que também coordena o Programa Rio sem Homofobia, lembra que no ano passado houve 20 casos de assassinatos de pessoas vítimas de preconceito sexual no estado, e neste ano já houve sete.
 
“Temos uma situação concreta de discriminação e preconceito. Tem um sistema ideológico muito estruturado que vem conseguindo gerar esses níveis de violência. Estamos disputando esse debate na sociedade, mas a gente sabe que com o aumento do fundamentalismo religioso e político, o conservadorismo da sociedade, a ideia de limpeza moral, tudo isso contribui [para a violência homofóbica]”.
 
O presidente do Grupo Arco Íris, que organiza a Parada Gay do Rio de Janeiro, Júlio Moreira, lembra que a luta contra a homofobia também foi derrotada no Congresso Nacional. “Estamos num cenário político muito delicado, pela experiência que nós tivemos com o PLC 122 [Projeto de Lei da Câmara que criminaliza a homofobia], projeto que recebeu tantas emendas [que], no final, não passou. Então a gente precisa refletir sobre o que a gente quer. A gente precisa mostrar que a gente tem força”.
Para o estilista Carlos Tufvesson, responsável pela Coordenadoria Especial de Diversidade Sexual da prefeitura, as casas legislativas têm sido omissas com relação à homofobia e outras intolerâncias. “Nós nunca matamos tanto negros, homossexuais, mulheres, nunca tivemos tantos crimes de intolerância religiosa. Estamos nos tornando um país intolerante. O dado de aumento de 47% dos crimes de ódio foi publicado em junho e desde então nenhuma política pública foi adotada. A gente está vivendo um verdadeiro holocausto de cidadania no nosso país. Tudo que a gente constituiu e lutou está sendo destruído”.
 
O vereador de Niterói Leonardo Jordano disse que não é possível dizer que a ausência de lei específica cause diretamente o aumento da violência homofóbica, mas há uma relação de causa e efeito entre os dois tópicos. “O descumprimento de leis é feito seletivamente, há diversas leis sendo descumpridas e só a [que ataca problemas ligados ao movimento] LGBT foi revogada. O movimento LBGT está sob ataque, a lei estava pacífica, consolidada. Tivemos conquistas importantes nas décadas de 1990 e de 2000, mas agora a gente vive um momento em que se busca andar para trás, os caras estão indo para a agressão. As denúncias são desmoralizadas, o debate é desqualificado, para manter no gueto a comunidade LGBT. É uma população que não pode amar em público e os outros vêm falar que [uma lei] seria criação de privilégios”.
 
De acordo com Minc, um novo projeto de lei com o mesmo teor da lei 3.406 foi apresentado pelo governador Sérgio Cabral, porém, a discussão está parada na Alerj. O deputado diz que o projeto já recebeu mais de cem emendas de pessoas contrárias à causa LGBT.


Li esta reportagem ontem e a mesma me fez lembrar uma discussão que tive na semana passada com uma pessoa que mora perto de mim e fez um comentário homofóbico e racista.
Passou um rapaz próximo de nós com as roupas muito sujas, e descalço. Ela lembrou que já o tinha visto antes e o classificou como "preto, pobre e viado". Fiquei extremamente chateada com o comentário, visto que sou "negra, pobre e lésbica" e respondi, declarando sobre o quanto a mesma simplesmente reproduz uma ideia sem pensar, já que o cérebro dela está empacotado em uma caixa. Ela é claro, disse que não era  racista, e deu alguns exemplos vazios para demonstrar que tem peninha da nossa raça. Porém, eu com meus argumentos, inclusive comentando também que vivemos em uma hipocrisia e simplesmente não me sinto bem vivendo aqui... Só moro no Brasil porque não tenho dinheiro o suficiente para sair. Perdi todas as esperanças.
Respondi, e enquanto eu puder, continuarei respondendo às ofensas até as minhas últimas forças. Dói pensar que muitos outros negros escutam esse tipo de comentário e ainda  sorriem, achando que tudo está normal. E esquecem que "a brincadeira" é uma forma que muitas pessoas encontram de dizer a verdade com a tentativa de não receber a resposta como se deve.
Ao mesmo tempo, existe o medo de se deparar com alguém mais agressivo e sofrer com a violência e ser somente mais um número na estatística.
Lutar contra isso é muito difícil. E sem apoio do governo, pior ainda.
Beijinhos e bom dia.

2 comentários:

Anônimo disse...

Tenho a ideia de que é uma luta de classes. O mais difícil é o negro se impor, face às constantes referências negativas que muitos "brancos" fazem sim, conscientes ou não, quando percebem alguém numa condição diferente da deles. É muito lamentável, e às vezes sinto que a mudança desse quadro vai depender única e exclusivamente da ação dos negros. Nós devemos nos impor! Devemos transformar todas as nossas lembranças de inferioridade em força, que sabemos que temos, para servir de exemplo aos nossos irmãos que ainda sofrem com isso, verão seus filhos sofrerem, sem ter uma luz no fim do túnel. O momento é agora e a hora é pra já! Comecemos hoje a fazer a diferença. A dignidade de nossas vidas depende disso.

Simonninha disse...

Concordo. A mudança começa em cada um.
Senão a melhoria não acontece.
bjs!!!